Estudo analisou quase sete mil denúncias de
violência física e psicológica. Os casos foram registrados
principalmente pelo Disque 100, um serviço de denúncias contra violações
dos direitos humanos.
Uma pesquisa sobre homofobia no Brasil revela: os principais agressores
dos homossexuais são da própria família. O Fantástico abriu uma linha
especial pra ouvir essas histórias.
“Violência física, discriminação, humilhação e ameaça. tudo isso
eu já passei e passo na minha casa. O tempo todo ele ficava falando que
eu tinha que sair de casa, que ia me dar um sumiço. Meus dois irmãos
também não aceitam, não falam comigo. Eles falam que eu tenho uma
doença”.
O relato é de um jovem, que tem medo e prefere não mostrar o
rosto. Ele descreve o tipo mais comum de agressões a homossexuais no
Brasil. Segundo um relatório pioneiro da Secretaria Nacional dos
Direitos Humanos, os principais agressores são da própria família.
“É como se eu morasse em casa, mas fosse um estranho. Eu me
sinto um estranho hoje. Eu não me sinto um membro da família”, diz.
A amostra é grande: o estudo analisou quase sete mil denúncias
de violência física e psicológica. Os casos foram registrados
principalmente pelo Disque 100, um serviço de denúncias contra violações
dos direitos humanos.
“Justamente para que no momento em que a pessoa faz a denúncia,
ela seja recebida com todo o respeito e exista uma investigação. Nós
identificamos também que as circunstâncias de impunidade também no caso
dos crimes de caráter homofóbico contribuem para a continuidade dessa
violência”, diz a ministra da Secretaria de Direitos Humanos Maria do
Rosário.
A maior parte das agressões aconteceu dentro de casa. E mais:
são as mães quem mais agridem os filhos por serem gays. Uma professora
universitária sabe há 20 anos que seu caçula é homossexual. E há 15
comanda uma instituição para reaproximar pais e mães de seus filhos
gays.
“Para uma mãe é muito difícil. Falou homossexual hoje em dia a
maioria das pessoas já aceita, como filho do vizinho. Mas filho da
própria pessoa ainda é difícil”, diz Edith Modesto, presidente do Grupo
de Pais de Homossexuais.
Ela diz que muitos filhos têm medo de como os pais vão reagir.
“Uma vez, um deles me falou e eu nunca mais me esqueci. Ele
falou ‘Edith, para o meu maior amigo eu já contei, porque se eu perder o
meu amigo, eu posso arrumar outro. Mas se a mãe não me quiser mais,
como eu vou fazer?’”, conta Edith.
Para Felipe, que trabalha no grupo como voluntário, o mais difícil foi contar para a mãe.
“Eu tinha medo de falar, mas ‘eu acho que ela vai agir
diferente, acho que não vai ser assim’”, conta o estudante Felipe Santos
Mário.
Mas foi.
“Tivemos um desentendimento, ela me bateu e aí dois dias ou um
dia depois eu saí de casa. Ela falou ‘olha, eu não quero mais você aqui
porque não dá, você não muda e eu não aceito. Meu filho pra mim morreu
quando você falou que era homossexual’", lembra Felipe.
O Fantástico abriu um canal exclusivo para ouvir histórias de
homofobia. Foram 50 relatos em apenas 24 horas. São casos de
humilhações, ameaças e agressões contra filhos, netos e irmãos.
“Durante três ou quatro anos foram violências constantes.
Surras, meu pai me jogava no chão e batia com os dois pés em cima de
mim. Meu pai falava que ia orar para Deus para Deus me matar, para Deus
me levar porque ele não queria ter filho homossexual”, relata um
homossexual.
“Ele chegou em casa e começou a me agredir. Disse que eu pagarei
tudo que eu faço, ele me ameaçou, ele disse que eu morrerei de câncer
pelas coisas que faço”, diz outro.
A violência não é sempre física. Mas o sofrimento é indisfarçável.
“Eu vejo meus primos crescendo, meus primos levando as suas
respectivas namoradas pra um encontro de família e eu não poder levar a
minha. Isso é muito triste pra mim porque é uma discriminação na minha
família”, reclama mais um.
A jovem que gravou esse depoimento também não quis mostrar o rosto.
“Eu queria ter amigos na minha casa, é uma coisa que eu não
tenho. Eu convivo com os meus avós desde que eu nasci e hoje, depois que
eles descobriram que eu sou homossexual, não existe mais paz na minha
casa, não existe mais diálogo. Eu vivo com dois estranhos. Eu não
escolhi ser assim, eu simplesmente sou assim. A única coisa que eu
queria pedir para eles é que eles me respeitassem”.
Link de acesso à matéria:
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1681504-15605,00-PRINCIPAIS+AGRESSORES+DE+HOMOSSEXUAIS+SAO+DA+PROPRIA+FAMILIA.html